Agraciado com a Medalha Municipal de Mérito Grau Prata
A título póstumo
Francisco Rosado
Músico, Pedagogo e Professor de Flauta de Bisel e Classe de Conjunto
Nasceu a 20 de Junho de 1951, filho de pai alentejano de Portalegre e mãe algarvia de Tavira, em Faro, cidade onde desenvolveu os estudos até o ensino secundário.
No início da década de 70 tinha uma banda musical, os “Pop 70”, já bastante conhecida no Algarve.
Recusando-se a participar na guerra colonial, Francisco Rosado exilou-se em 1971, saindo clandestinamente do país. Antifascista, iria ter o estatuto de refugiado político da ONU, na Bélgica, de que beneficiou quatro anos, depois de ter passado um ano clandestino em Paris. Chegado a Bruxelas, trabalhou nos transportes públicos, a conduzir eléctricos e metro, para angariar sustento.
Entretanto, descobria a música de intervenção, passando dos Beatles e dos Simon and Garfunkel para a Joan Baez e Bob Dylan, em plena contestação contra a guerra do Vietname. Cantava as canções da guerra civil e da resistência espanhola, a par das canções do Zeca Afonso e de tantos outros cantautores da música antifascista portuguesa. Aprendia as canções de combate contra as ditaduras militares da América Latina. Cantava e tocava a Violeta Parra, o andino Atahualpa Yupanqui e Victor Jara, que viria a ser torturado e assassinado pela ditadura de Pinochet. Era, já então, um curioso insaciável: partia para o conhecimento de tudo o que julgasse enriquecê-lo.
Quando, em 1975, chegou a Faro, vindo de Bruxelas, achou ser mais útil trabalhar como operário na Unicer (Loulé), a fim de fazer trabalho político junto dos operários, onde dinamizou a Comissão de Trabalhadores. Durante o PREC e no tempo que se seguiu, foi um activista de corpo e tempo inteiros, onde a militância no PCP(R) e o activismo político era o tempo todo.
Continuou os estudos na área da música. Fez o Curso Complementar de Flauta de Bisel do Conservatório Nacional de Lisboa. Foi aluno da Catarina Latino (já desaparecida) e do Pedro Couto Soares e participou em “master classes” com Lorenzo Alpert – no Curso de Música Antiga Ibérica, realizado na Fundação Gulbenkian, em 1984 – e Peter Holtslag – no Curso Internacional de Música Antiga na Torre de Belém, em 1991.
É no ensino e na promoção da Música Antiga que assumirá grande destaque no Algarve: foi um dos fundadores do Grupo de Música Antiga do Conservatório de Faro, com o qual participou em numerosos concertos, ao longo dos quinze anos de actividade do agrupamento e constituiu o Consort de flautas do Conservatório Regional do Algarve Maria Campina. Teve um papel preponderante na dinamização cultural do Concelho de Loulé, na área da música, particularmente da música antiga, projectando o nome da cidade tanto ao nível nacional como internacional. A ele se deve a criação do «Encontro de Música Antiga de Loulé», um evento que conta com quase duas décadas de existência e que se tornou numa referência na programação de eventos culturais do país.
Francisco Rosado esteve também ligado à programação dos Encontros, desde 1999, tendo sido o seu director artístico. Foi também um dos fundadores e incentivadores da continuidade da Escola de Música do Município de Loulé, onde exerceu a sua actividade docente durante 25 anos, tendo ainda na Primavera de 1988 fundado o Ensemble de Flautas do Centro de Expressão Musical de Loulé que possui vários CDs gravados.
Foi colaborador em duas revistas da especialidade no ramo da flauta de bisel : A Flauta de Pico e American Recorder Magazine.
Fundou e foi director artístico do “Ciclo Barroco de Faro” que teve a sua primeira edição em 2015.Leccionava Flauta de Bisel e Classe de Conjunto no Conservatório Regional do Algarve Maria Campina, tendo sido reconhecido como especialmente relevante o seu desempenho, que influenciou positivamente várias dezenas de alunos ao longo do seu percurso profissional. Foi grande a perda que a sua partida prematura representou para a comunidade do ensinob artístico e para a música e cultura do Algarve, particularmente para os alunos do Conservatório Regional do Algarve, onde desempenhou parte do seu percurso profissional. « Era um apaixonado acérrimo da Música, da Flauta de Bisel, da Música Antiga, da Pedagogia. Produtor e programador notável, de bom gosto, de bom trato. Notável pela quantidade de Músicos Portugueses e de Música Antiga que ajudou a crescer e a divulgar» - testemunham os colegas.
Músico e pedagogo, Francisco Rosado era um homem bom, muito bem formado, de grande autenticidade e profissionalmente muito competente.
Em Outubro de 2015 foi homenageado pelo Conservatório Regional do Algarve Maria
Campina.
A partir de 2016, o “Encontro de Música Antiga de Loulé passa a chamar-se: “Encontro de
Música Antiga de Loulé - Francisco Rosado” por decisão da Câmara Municipal de Loulé.
A sua biografia consta dos “Antifascistas da Resistência “.
“Um Homem que teve um papel preponderante na dinamização cultural do nosso Concelho, na área da música, particularmente da música antiga, já que a ele se deve a criação do Encontro de Música Antiga de Loulé, um evento que conta com quase duas décadas de existência e que se tornou numa referência na programação de eventos culturais do país. Francisco Rosado foi também um pedagogo exemplar, tendo sido responsável pela formação de muitos jovens do nosso Concelho que enveredaram pelos estudos superiores e por uma carreira nesta área. É de destacar ainda o reconhecimento internacional alcançado por esta figura ímpar da nossa vida cultural, estatuto que lhe foi conferido pela dedicação e empenho na direçãoartística do Encontro de Música Antiga de Loulé”, referem os responsáveis municipais.
Francisco Rosado deixou-nos no dia 23 de setembro de 2015, vítima de doença súbita.
Nota: Este texto não está escrito ao abrigo do acordo ortográfico, a pedido de sua esposa.