Sem monografias exatas e minuciosas das suas localidades e das suas gentes é impossível fazer a História de um país. O pressuposto das narrativas historiográficas, que, durante séculos, fez prevalecer o sentimento de pertença comum, da sociedade e dos indivíduos a uma entidade nacional alterou-se significativamente com o 25 de Abril, que abriu um vasto e plural campo de investigação historiográfica e integrou consensualmente a mais-valia da História local e regional, não só pela inovação metodológica, mas principalmente pelo seu contributo imprescindível à construção histórica nacional.
A escolha de estudos de caso locais ou regionais, ao contrário da simplificação que alguns alvitraram, implica uma multiplicação do número de variantes a observar e a integração dos múltiplos aspectos do espectro social, pois o local, quando alçado à categoria central da análise, confere uma nova densidade ao estudo dos agentes e dos fatores constitutivos das experiências históricas.
Os estudos locais e regionais trabalham com as diferenças e particularidades, permitindo, nas comparações com o nacional/transnacional, fortalecer conceitos ou romper com estereótipos historiográficos.
Em coerência com o enunciado, tomou-se como objecto de estudo e de análise a Revolução de 25 de Abril no Algarve e as movimentações militares nesta província, sendo identificados os protagonistas, as resistências e as reacções dos militares, bem como os seus efeitos na sociedade algarvia nos dias agitados que se seguiram ao golpe militar e ao processo imediato que conduziu à instituição do regime democrático a sul.
Procurou-se responder a algumas questões básicas: Como se integrou o Algarve nos preparativos revolucionários? Qual a importância do seu contributo? Que personalidades tomaram parte directa ou indirectamente parte na revolta militar? Quem emergiu e quem tomou posição, manifestando-se (ou não) pró ou contra a revolução? Qual a atitude das forças da manutenção da ordem pública no Algarve perante o desenvolvimento da revolução? Quais as motivações que levaram muitos a intervir na vida política? E quais as expectativas que se colocavam na revolução para resolver os problemas do Algarve na época?
Também se identificou o contributo dos algarvios na preparação e concretização do golpe militar, pois não foi despiciendo e, em alguns casos, até foi decisivo.
E, em Loulé, como foram vividos estes momentos?
A História da implantação do regime democrático ainda está por fazer, pois o país distante da capital ainda não foi abrangido pela historiografia contemporânea. Para esse facto contribuiu o hábito e a prática dos portugueses que fizeram de Portugal o país da “não inscrição”.
Por isso, mais de quarenta anos após a queda do regime ditatorial importa, pois, conhecer o 25 de Abril nos seus mais variados aspectos, nomeadamente a nível regional e local, para tentarmos compreender o seu legado para o nosso futuro colectivo.
Aprofundar o conhecimento sobre o 25 de Abril vai para além da História. É, de certa forma, promover um desígnio nacional que faz cumprir a Democracia.
Foi essa a intenção maior desta conferência.